top of page

Mensagem de STEFAN KAEGI

 

Queridos amigos no arame,

Não sou marionetista, nem construtor de marionetas. Mas em dois dos nossos projectos há robôs a fazerem de marionetas e creio que foi por essa razão que Zaven Paré me pediu que escrevesse estas palavras sobre como nasceram esses projectos robóticos.

Vivemos num tempo em que as marionetas parecem ser uma metáfora útil para aqueles que tentamos compreender o que nos anima quando substituímos o marionetista por uma máquina. Era pelo menos essa a ideia que tínhamos quando comecei a conversar com o escritor alemão Thomas Melle sobre o que podia significar para ele ser substituído por um robô humanoide durante todo o espectáculo. Thomas sofre de distúrbios bipolares e por isso não se sente à vontade quando está diante do público. Encontrámo-nos com um engenheiro animatrónico que estava habituado a construir marionetas realistas para cinema (por exemplo, para fazer explodir um corpo numa cena de acção sem magoar ninguém). A pós-produção computorizada atirou-o para o desemprego. Ele aceitou construir uma cópia de Thomas com um molde em silicone do seu rosto e das suas mãos e animá-la com 32 servomotores. Acrescentámos-lhe uma gravação da voz de Thomas.  Na nossa performance «Umcanny Valley» (O Vale do estranho), o sósia robótico de Thomas reflecte sobre o que significa substituir um ser humano por um robô e assim escapar à frágil condição humana. Numerosos espectadores revelaram ter sentido empatia em relação ao humanoide e alguns identificaram-se mesmo com ele. Começaram a reflectir sobre o modo como foram programados pelo contexto social em que tinham crescido. A interdependência psicológica e o livre arbítrio tornaram-se assuntos de actualidade. Um efeito de marioneta clássico, mas aqui produzido por uma máquina inquietante, com efeito.

Passaram-se seis anos desde a criação dessa obra e os algoritmos continuaram a desenvolver-se. O número de vídeos deep-fake à nossa volta aumenta a cada dia. «A marioneta informática» tornou-se um mero artefacto, executado por programas de computador baratos. Versões on-line de nós mesmos fazem coisas que nós nunca fizemos e podemos mesmo ouvir-nos a dizer coisas que nunca dissemos. Isso levou-nos, a mim e à minha colega do Rimini Prottokoll Helgard Haug, a criar uma instalação para o novo Museu da Colecção de teatro de marionetas de Dresden ( patente até junho de 2025).

Para uma das salas da instalação imersiva «Alterego Raubkopie», convidámos o construtor de marionetas Christian Werdin, de 70 anos, para esculpir uma marioneta de Elon Musk de 60 cm em madeira de pereira. Não porque tivéssemos sido capazes de prever como daí a pouco Musk iria manipular os políticos como marionetas de fios, mas porque queríamos controlá-lo a ele recorrendo a 15 servomotores a puxar os cordéis. Programámos esses motores com a ajuda de uma turma de marionetas da universidade Ernst Busch das artes do espectáculo. Não era apenas um processo divertido para os estudantes que controlavam diversas partes do corpo de Musk com recurso a joysticks que eles tinham construído e que gravavam os movimentos num computador de animação que apresenta hoje de vinte em vinte minutos o mini-Musk em Dresden. É igualmente uma revelação para o público ver o cérebro de Chat GPT e o programa Neuralink, que invade o cérebro, perderem o controlo dos seus próprios movimentos.

Quando observarmos o mundo como um teatro de marionetas à nossa volta talvez possamos descobrir como estamos a ser movidos por cordelinhos invisíveis.

Desejo-vos o melhor para o vosso próximo ano de marionetas!

Stefan Kaegi

(tradução de Christine Zurbach)

 fundada em 15 de maio de 1989 - UNIMA PORTUGAL união internacional da marioneta - centro português da unima - info@unimaportugal.com

bottom of page